CBROHI

Na série de entrevistas do Colégio Brasileiro de Odontologia Hospitalar e Intensiva a escolhida da vez foi Aléxsandra Botezeli Stolz, graduada em odontologia pela Universidade Federal de Santa Maria, com Habilitação em Odontologia Hospitalar pelo CFO (com curso no CEMOI), MBA em Gestão Hospitalar pela UNINTER, mestrado em CTBMF pela UFPel e Doutorado em CTBMF pela PUCRS.

Professora Associada do Departamento de Estomatologia do Curso de Odontologia da UFSM, idealizadora e professora responsável pela disciplina de Odontologia Hospitalar ofertada para o nono semestre do curso de Graduação na forma de DCG (Disciplina Complementar de Graduação),  a Profa. Dra. Aléxsandra também é tutora do núcleo de Odontologia da Residência Multiprofissional Integrada em Gestão e Atenção Hospitalar no Sistema Público de Saúde, vinculada ao Hospital Universitário da UFSM.

 

Como conheceu a Odontologia Hospitalar?

Como professora da UFSM, sempre lecionei nas disciplinas de cirurgia do curso de Odontologia. Quando atuávamos no centro cirúrgico com projetos de extensão, a equipe multiprofissional aproveitava a oportunidade e solicitava pareceres para pacientes internados nos leitos e nas UTIs, já que na época o HUSM não possuía dentistas em seu corpo clínico fora da especialidade de CTBMF. Dessa forma, comecei a perceber a grande demanda contida e fui estudar mais a respeito dos benefícios que um cirurgião-dentista poderia proporcionar para pacientes hospitalares.

 

Quando iniciou seu trabalho na área?

Em 2014, apresentei uma proposta ao Diretor do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFSM, Prof. Dr. José Edson Paz da Silva para criação de uma disciplina de Odontologia Hospitalar. Para isso, recebi apoio financeiro do CCS/UFSM para que eu realizasse uma capacitação em Odontologia Hospitalar. Optei pelo CEMOI unidade de Brasília e em 2015 recebi meu certificado de Habilitação em Odontologia Hospitalar. Embora minha formação em CTBMF me proporcionasse a vivência hospitalar da especialidade, a habilitação me proporcionou a vivência clínica da Odontologia e atualizou meus conhecimentos de forma mais ampliada para um bom atendimento ao paciente internado.

 

Atua diretamente dentro de algum hospital?

Trabalho no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), que caracteriza-se como um hospital de ensino, geral, público, de nível terciário, atendendo 100% pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Tem por finalidade a formação profissional, desenvolvendo o ensino, a pesquisa e a extensão por meio da assistência à comunidade na área da saúde. O HUSM é o maior hospital público com o único Pronto-Socorro a atender, exclusivamente, pelo SUS no interior do Estado do Rio Grande do Sul e abrange uma população de 1,2 milhões de habitantes. Há mais de 30 anos é referência no atendimento de urgência e emergência para a população de 45 municípios da Região Centro-Oeste do Rio Grande do Sul, com, atualmente, 403 leitos de internação.

 

Quais suas principais demandas e resultados no Hospital?

Como existem dentistas na residência multiprofissional com ênfase nas áreas de doenças crônico-degenerativas e também em hemato-oncologia, as demandas focam mais nesses setores, além da UTI adulta. Constatamos a melhora da qualidade de vida dos pacientes através de depoimentos deles mesmos, dos familiares e da equipe multiprofissional, mas principalmente por estudos científicos dos acadêmicos de Odontologia na forma de pesquisas e de relato de casos clínicos de sucesso.

 

Comparando passado e presente, quais as maiores dificuldades para atuar na área?

Essa é uma questão que sempre conto para meus alunos. Embora ainda estejamos longe de um serviço de Odontologia Hospitalar de excelência, no início nos restringíamos a dar pareceres prontos enfatizando que sim, estávamos presentes dentro do hospital, mas tínhamos a grande limitação da falta de recursos técnicos para a resolução dos problemas. Essa foi a forma que encontrei de exercer uma certa pressão sobre os gestores mostrando que a Odontologia tinha demanda. Foi muito difícil pois passávamos a impressão de estarmos “passeando” no hospital e recebíamos muitas críticas. Atualmente nossa luta é para formarmos uma equipe aumentando a contratação de cirurgiões dentistas. Hoje contamos com dois dentistas clínicos contratados, um professor da Odontologia cedido ao HUSM, que atua na área de tecnologia e inovação em Radiologia, duas dentistas residentes da multiprofissional, uma doutoranda da Odontologia e uma dentista voluntária, além de dois bucomaxilofaciais. Imprescindível também o engajamento de alguns professores do curo de Odontologia.

 

Como você enxerga o seu trabalho dentro da OH?

Sou professora e como tal, minha missão é plantar ideias e ideais. Meu trabalho consiste em apresentar aos alunos uma área pouco conhecida para o futuro cirurgião-dentista, despertando o interesse pelo trabalho no hospital e estimulando a empatia com os pacientes e a equipe multiprofissional. Os alunos têm acesso a conteúdos teóricos com aulas e artigos científicos que dão suporte para suas vivências práticas onde acompanham e auxiliam os professores e dentistas no atendimento ao paciente. Nos últimos seis anos nossa principal conquista, ao meu ver, foi o reconhecimento e o respeito do cirurgião-dentista pela equipe multiprofissional dentro do hospital. Também, a aquisição de alguns materiais de consumo e equipamentos (temos dois equipamentos de laser, sendo um fixo da UTI).

 

O que você tem como meta para o futuro?

Estimular e capacitar melhor as equipes de apoio (enfermagem), para que protocolos de higiene oral atinjam um nível de excelência com impactos significativos estatisticamente na redução de PAV e na saúde geral dos pacientes internados. Isso precisa de muito esforço e dedicação constante, visto ser um hospital escola onde a rotatividade das equipes de atendimento é muito grande.  Meu maior objetivo a longo prazo será saber que muitos de meus alunos estão trabalhando com Odontologia Hospitalar e fazendo a diferença na vida de seus pacientes.

 

Na sua visão quais os maiores desafios para trabalhar com a OH?

O principal desafio é desvincular a imagem do cirurgião-dentista com o consultório odontológico tradicional, com a individualidade e isolamento da nossa profissão. Provar para todos o porquê de estarmos na equipe e ter dados que comprovem a nossa importância. Por eu trabalhar em um hospital escola público acredito que deva ser um pouco menos difícil do que os colegas que trabalhem em outros hospitais. Uma dica é sempre ter casos clínicos, dados e pesquisas documentadas com a autorização do paciente ou da família. Isso permite a divulgação em eventos dentro ou fora do hospital e vai aos poucos sacramentando a Odontologia Hospitalar em locais ainda reticentes.

 

Poderia nos disponibilizar pesquisas para divulgação?

CANTARELLI, C. P.; BORGES, P. Z.; BOTEZELI, A. S. A inserção da odontologia hospitalar como disciplina complementar de graduação: contribuições e desafios sob relato de experiência. Odontologia Clínico-Científica (Impresso), v.17, p.123 – 128, 2018.

STOLZ, A.S; MIRANDA JR., A. S.; FOLETTO, E.; PRAETZEL, J.; FLORES, J.A. Atendimentos odontológicos no Setor de Hemato-Oncologia do HUSM: Estudo Observacional Retrospectivo. Revista do Centro de Ciências da Saúde (UFSM) (Cessou em 1982. Cont. 0103-4499 Saúde (Santa Maria)). v.37, p.07-14, 2011.

 

SOUZA, F. S.; BRUM, V. M.; STOLZ, A.S. Manejo odontológico em paciente com hemoglobinúria paroxistica noturna: relato de caso clínico. In: XVIII JOCAPE – Jornada Odontológica do Centro de atendimento a pacientes especiais da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo – USP. ScientificInvestigation in Dentistry. São Paulo, SP: USP, 2018. v.23. p.45- 46.

 

BRUM, V. M.; SOUZA, F. S.; STOLZ, A.S; PERES, A. O. Manejo odontológico no caso de um paciente laringectomizado total com agravo de fístula faringocutânea. In: XVIII JOCAPE – Jornada Odontológica do Centro de atendimento a pacientes especiais da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo – USP, 2018, ScientificInvestigation in Dentistry. São Paulo, SP: USP, 2018. v.23. p.45-45.

 

AMARAL JUNIOR, O. L.; STOLZ, A.S.Ações Odontológicas em pacientes da Unidade de Terapia Intensiva Coronariana (UCI) do HUSM. In: 32ª Jornada Acadêmica Integrada, 2017, Santa Maria, RS. Anais eletrônicos. Santa Maria, RS: UFSM, 2017. v.1. p.1-1.

 

NASCIMENTO, L. P.; PALMA, V. M.; STOLZ, A.S. Atenção odontológica a pacientes oncológicos: uma revisão de literatura. In: XXXI Jornada Acadêmica Integrada, 2016, Santa Maria, RS. Anais eletrônicos. Santa Maria, RS: UFSM, 2016. v.1. p.1-1.

 

WEBER, B. P.; BLACK, N.; STOLZ, A.S. Relato de caso clínico: diagnóstico diferencial entre hiperplasia epitelial e leucoplasia. In: XXXI Jornada Acadêmica Integrada, 2016, UFSM. Anais eletrônicos. Santa Maria, RS: UFSM, 2016. v.1. p.1-1.

 

TEIXEIRA, J. V.; AMARAL JUNIOR, O. L.; STOLZ, A.S. Influência dos bifosfonatos nitrogenados em cirurgias orais menores. In: XXX Jornada Acadêmica Integrada, 2015, Santa Maria, RS. Anais eletrônicos. Santa Maria, RS: UFSM, 2015. v.1. p.1-1.

 

BOTEZELI, A. S.; TOSATTI, K. T.; KOLLING, T. S. Epidemia da dor facial de origem cardíaca. In: XVII Congresso Internacional de Odontologia da Bahia – CIOBA, 2014, Salvador, BA. Anais eletrônicos. Salvador, Ba: CIOBA, 2014. v.1. p.25-25.

 

BRUM, V. M.; BULIGON, M. P.; SOUZA, F. S; ESCOBAR, L. C.; STOLZ, A. S. B.; Atenção à Saúde Bucal dos Pacientes Pediátricos Internados no HUSM: Relato de Experiência. In: V Semana Científica o Hospital Universitário de Santa Maria, 2014, Santa Maria, RS. Anais. Santa Maria, RS: UFSM, 2014. v.1. p.54-54